O jovem chef Manoel Franklin é daquelas figuras que parecem ter saído diretamente do universo amadianiano. A começar pela morenice, embora este seja apenas um detalhe de uma das versões masculinas dos livros de Jorge Amado. O fato de ter nascido em Ilhéus e crescido entre plantações de cacau, com a particularidade de ver os frutos brotarem no próprio quintal, reforça ainda mais essa conexão. Aguerrido, resiliente e movido por uma enorme vontade de vencer, ele teve como horizonte a gastronomia desde a infância. Criado pela avó e bisavó, Manoel é o reflexo do DNA da região cacaueira. Quer mais amadianiano que isso?
Manoel sempre gostou de cozinhar, e o processo de colocar a mão na massa começou muito naturalmente, aos 13 anos, de forma ainda amadora. O cacau foi o produto-base para as primeiras ideias culinárias, que nasceram com o objetivo de complementar a renda familiar. Um dos principais frutos da Bahia acabou transformando a vida do jovem chef.
“No fundo de casa também tinha pé de cacau. Desde criança, já consumia a fruta in natura, via minha avó colocando as sementes para secar para também ter alguma rendinha em casa. Esse foi o principal elemento que me despertou quando fiz meu primeiro doce”, conta.
Ele começou a enxergar no cacau grandes possibilidades e criou iguarias apetitosas tendo como matéria-prima os frutos nascidos no próprio quintal, em Ilhéus.
“Aí eu pensei:
– Nossa, quero fazer um brigadeiro para vender para os meus colegas, mas não quero algo comum. Os brigadeiros da escola eram todos muito doces, feitos com achocolatado. Vou fazer algo mais intenso, equilibrado, que desperte a vontade de comer mais, sem enjoar. Então comecei a fazer brigadeiros meio amargos, fui criando outros doces, não só com chocolate, mas também com mel de cacau e polpa do cacau”, relembra.
Manoel é um daqueles chefs que valorizam o produto da terra e têm um olhar aguçado para o que a Bahia tem a oferecer, principalmente quando se trata do chocolate, uma das suas matérias-primas favoritas.
“Morar na Bahia e ser de Ilhéus tem um papel de grande valor na minha vida. Primeiro, pela delícia que é o chocolate, por todas as nuances de sabor desse produto e pela diversidade de formas e técnicas que podemos explorar. Como vivenciei isso desde a infância, esse contato com o cacau tem grande peso na minha vida porque é algo que sempre esteve presente, algo que eu via e tocava diariamente”, diz, emocionado.
Nesta semana do Dia do Cacau, Manoel faz uma grande reverência ao fruto que é a marca registrada da Bahia e a matéria-prima de um dos maiores amores gastronômicos do mundo: o chocolate.
“O cacau pode ser muito mais que chocolate, com toda certeza. Podemos explorar a polpa para sucos, geleias e compotas. Quando prensada, essa polpa extrai um líquido chamado mel de cacau, uma bebida maravilhosa, adocicada e com leve acidez. A casca do cacau também pode ser utilizada para fazer chá, que é super rico em nutrientes. Enfim, há uma diversidade enorme de possibilidades que podemos explorar”, relata.
E foi justamente o cacau que protagonizou um dos momentos mais marcantes da vida de Manoel como chef. Ele acaba de vencer o concurso do programa da GNT “Que Seja Doce” com uma de suas criações mais felizes e saborosas: Jarrinho Baiano. Iguaria servida em um delicado copinho de chocolate, que une a intensidade do cacau à cremosidade da cocada, realçada pelo toque cítrico do limão-siciliano. Tudo isso dentro de um copinho de chocolate que também pode ser devorado.
Feliz com a vitória, Manoel dedicou a conquista à sua cidade natal e à cultura cacaueira da região. “O cacau construiu a identidade da minha terra, e vencer com ele é um marco na minha história”, afirma o chef.
Para encerrar, mais amadiniano impossível! Manoel celebra o cacau e lembra que ele foi um agente transformador em sua trajetória.
“O cacau teve um papel fundamental na minha transformação social, profissional e pessoal. Através desse fruto, me conectei com muitas pessoas de valor, que me abriram portas e me permitiram crescer”, afirma.